16 de outubro de 2013

Literatura das margens

Publicado em: O Povo - Jornal de Hoje (Fortaleza)

Mexicano analisa a literatura feita por moradores da periferia brasileira. Em Vozes dos Porões, o escritor Alejandro Reyes investiga como a memória, a violência e a linguagem são fatores que distinguem essa produção
 
 
Alan Santiago alan@opovo.com.br
 
Moradores da periferia têm se reunido, desde o início dos anos 2000, para uma atividade perigosa e subversiva: saraus recitando poesia, discutindo a própria realidade, refletindo sobre o mundo – geralmente em bares. Esse movimento literário, que explodiu em São Paulo e ganhou outras cidades do País, é o foco de Vozes dos Porões, assinado pelo mexicano Alejandro Reyes.

As 271 páginas do estudo são fruto de um doutorado na Universidade da Califórnia em Berkeley, quando Reyes se propôs o cruzamento entre dois de seus olhares: o do escritor e o do ativista.

Ele é autor do romance A Rainha do Cine Roma, enxergando a vida de crianças em situação de rua, e também entusiasta das iniciativas de autonomia nas comunidades zapatistas mexicanas, que têm escolas e postos de saúde próprios.

Na pesquisa, Reyes tenta entender o que esses saraus significam do ponto de vista literário e político. Segundo ele, trata-se de uma literatura com grande ênfase autorrepresentativa, ao refletir o dia a dia das populações periféricas que a produzem.

Além disso, está vinculada também a iniciativas de ação política – como economia solidária e movimentos populares. Os saraus, um fenômeno que Reyes reputa como global, têm cada vez mais se desdobrado em oficinas ou até mesmo em cursos de longa duração com uma pedagogia, às vezes, “baseada no imaginário simbólico afro-brasileiro”.

Tudo isso criado por autores e público de periferias, favelas e prisões. “Mas essas características não são estreitas. O (escritor pernambucano) Marcelino Feire é considerado parceiro, embora seja de classe média”, afirma.

Violência
Inspirados pelo Cooperifa, criado 2001, outros tantos saraus surgiram – no Rio, em Salvador, em Brasília, Porto Alegre. E acabaram fazendo emergir um punhado de escritores que convertem os sentimentos das ruas em literatura.

Allan da Rosa, Paulo Lins, Nelson Maca, Ferréz e Sérgio Vaz, por exemplo, ganharam notoriedade nacional. Hoje participam de festas literárias pelo Brasil e vão também a universidades estrangeiras, carregando o modus vivendi dos bairros considerados “marginais”.

“(...) não batemos na porta para alguém abrir, nós arrombamos a porta e entramos”, resume Ferréz em Terrorismo Literário, manifesto impresso numa coletânea com talentos dessa safra. Três números especiais, em 2001, 2002 e 2004, da revista Caros Amigos ajudaram a visibilizar essa produção, ao publicar 80 textos de 48 autores.

Na avaliação de Reyes, há “um processo próprio de como essas portas foram quebradas, entrando em espaços que antes não eram permitidos. Quando os escritores começam a viajar, isso vai ampliando”.

Essa nova literatura “marginal” – que se apropriara e remodela termo já utilizado nos anos 1970 – é um produto da década de 1990, segundo Reyes. O acréscimo brutal da violência naquele decênio gerou “uma cultura de extermínio devido ao abismo social que cresce depois do fim da ditadura”.

Massacres como do Carandiru ou da Candelária acontecem, respectivamente, em 1992 e 1993. “Isso dá origem, anos depois, a uma série de escritos que são o embrião do que viria a ser a literatura carcerária. A mesma coisa na literatura da periferia”.

Tão próxima das populações periféricas que convivem com a truculência do tráfico e da polícia, a violência aparece também de maneira sistêmica nesses autores. “Não apenas com a chacina, mas também num transporte público humilhante para eles”.

Afora a violência, ainda outros três aspectos que distinguem, para Reyes, essa produção são analisados no livro: a memória, a linguagem e a crise do mediador de classe média.

“Os escritores periféricos estão dominando a norma culta e subvertendo a lógica com a linguagem das ruas, que sempre foi excluída”, afirma. Ao mesmo passo, a memória serve para dar sentido a uma experiência mais individual dessas populações e é uma tentativa de se opor aos parâmetros da globalização.

Além disso, uma crise na mediação entre o Brasil da favela e o Brasil da classe média alta acirrou os ânimos dos dois lados. E a reação, nas comunidades periféricas, é o surgimento do hip-hop, que faz a figura do malandro, exaltado como síntese do País, passar ao papel de criminoso.

“Na crise do mediador, há um vácuo, que é preenchido pelo produtor cultural da periferia de outra forma. Não mais numa negociação, mas na visibilização do conflito. É uma mudança radical”.

Onde

ENTENDA A NOTÍCIA

A conversa com Alejandro Reyes aconteceu em Passo Fundo, no interior do Rio Grande do Sul, onde ele foi participar da 15ª Jornada Nacional de Literatura. Ele dividiu o palco com o poeta Sérgio Vaz e o rapper Emicida na mesa “A leitura das ruas”.

SERVIÇO

Vozes dos Porões
Alejandro Reys
Coleção Tramas Urbanas
Editora Aeroplano
271 páginas

4 de outubro de 2013

Universidade das Quebradas, Rio de Janeiro

Alejandro Reyes from Universidade das Quebradas on Vimeo.

Escritor mexicano Alejandro Reyes lança o livro Vozes dos Porões na Universidade das Quebradas

Publicado no site da Universidade das Quebradas

A literatura produzida atualmente nas periferias brasileiras  é o tema do novo livro do  escritor mexicano Alejandro Reyes,  Vozes do Porão: Literatura Periférica/Marginal no Brasil que faz parte da coleção Tramas Urbanas da Editora Aeroplano.

Alejandro Reyes esteve ontem na Universidade das Quebradas para apresentar seu livro e falar sobre literatura e política. Fruto de uma tese de doutorado na  Universidade de Berkeley na Califórnia, o trabalho, explica o escritor, tem “intenção de contribuir para a construção de alternativas neste momento de crise global”.

Ele contou brevemente que a literatura que foi chamada de marginal, foi escrita na década de 1980, por autores da classe média que se colocaram fora do cânone, produzindo livros artesanais. A partir de 2000, uma literatura muito forte surge na periferia de São Paulo, em regiões de favela e prisões. Esta literatura ocupa os bares com saraus como o da Cooperifa e Sarau do Binho. O escritor revelou que um marco neste movimento aconteceu quando o escritor Ferrez organizou três volumes da revista Caros Amigos sobre esta Literatura Marginal, apresentando uma série de textos inclusive do Comandante Marcos ligado ao movimento Zapatista.

Mexicano que morou na Bahia, Alejandro se define como um escritor ativista. Ele acredita que as palavras têm mais poder que as balas e afirmou: A literatura precisa fazer um questionamento ético não apenas estético. 

Alejandro nos contou que 95% do crescimento populacional no mundo se dá em áreas periféricas onde as pessoas vivem de subemprego e sonham com o tempo em que eram explorados e tinham salario, ele disse: Vivemos em uma panela de pressão!

O autor afirma que esta panela só não explode por causa das Ongs e programas como o Bolsa Família, que funcionam como band aids e porque a polícia está sempre pronta para dar porrada na cabeça daqueles que protestam.

Ele também comentou sobre as reflexões do escritor paulistano Allan da Rosa, que percebeu o papel limitado na capacidade de transformação social dos saraus. Allan está atualmente organizando cursos baseados na reflexão sobre a cultura afrobrasileira. Falou ainda sobre o movimento revolucionário Zapatista que há vinte anos experimenta a construção de uma autonomia no sul do México, constituindo escolas, sistemas de saúde e de justiça independentes do estado.

E atenção: quem quiser trocar ideias com Alejandro Reys, ele estará participando, hoje dia 11 de setembro, do circulo de conversas Resistência e/em Movimento, na Rua Alcino Guanabara (ocupação Manuel Congo) Cinelândia, ás 19 horas, e amanhã dia 12 de setembro, no Sarau Apafunk.

3 de outubro de 2013

Letras engajadas (Revista Cultura.rj)

Publicado em: Revistsa Cultura.rj

O mexicano Alejandro Reyes, que acaba de lançar o livro Vozes dos Porões, fala sobre a literatura periférica do Brasil


 O autor pesquisou a literatura periférica brasileira em seu doutorado. 
(Crédito: Divulgação) 


Capa do livro, lançado pela editora Aeroplano.
Na última década, a produção literária da periferia brasileira ultrapassou barreiras, atingindo novos públicos, chegando ao mercado e às universidades, extrapolando até fronteiras nacionais. O movimento chamou a atenção de Alejandro Reyes, escritor, tradutor e jornalista nascido no México. Depois de morar vários anos nos Estados Unidos e na França, Alejandro se mudou para o Brasil em 1995, onde mergulhou na cultura urbana produzida e vivenciada nas favelas e passou a estudar o que chama de “fenômeno da literatura periférica no Brasil”.

Assim nasceu o recém-lançado Vozes dos Porões, livro em que Alejandro analisa a expansão desse movimento literário, suas particularidades e suas dimensões sociais e políticas. A obra é fruto de sua pesquisa de doutorado realizada na Universidade da Califórnia, em Berkeley, mas Alejandro avisa, logo na introdução, que as inquietações que o moveram na empreitada foram mais as do ativista e do escritor que as do acadêmico ou intelectual.

Alejandro Reyes é autor de Vidas de rua e Contos Mexicanos, coletâneos de contos, e do romance A rainha do Cine Roma, finalista do prêmio Leya 2008 e ganhador do prêmio mexicano Lipp 2012 pela versão em espanhol. Seu romance de estreia foi traduzido no Brasil, em Portugal, no México e na França. Atualmente o autor vive em Chiapas, no México. Vozes dos Porões integra a coleção Tramas Urbanas, da editora Aeroplano.



No livro Vozes dos Porões, você escreve que o fenômeno da literatura periférica é forte no Brasil, mas você se foca bastante nos escritores de São Paulo. Como é essa cena no Rio?

O fenômeno começou de fato a adquirir características de “movimento” (literário, político e social) em São Paulo, sobretudo com a criação dos saraus do Binho e da Cooperifa e a subsequente proliferação dos saraus por todas as periferias da cidade, e com a publicação dos números da revista Caros Amigos dedicados à “literatura marginal”, organizados por Ferréz (foram três números da publicação editados em 2001, 2002 e 2004, que reuniram 80 textos de 48 autores oriundos das periferias do país). Mas o grande precedente que deu visibilidade à literatura periférica na década de 1990 foi o romance Cidade de Deus, de Paulo Lins, justamente no Rio de Janeiro. E teve também o MV Bill e Celso Athayde, com os vários produtos culturais do projeto Falcão, em meados da década de 2000. De grande importância hoje são os muitos saraus literários que vêm surgindo há alguns anos no Rio, vários deles na Baixada Fluminense, alguns inspirados nos saraus que deram origem ao movimento em São Paulo e outros, significativamente, inspirados no trabalho de Nelson Maca e o coletivo Blackitude, em Salvador, com um viés muito mais afrobrasileiro. O último evento da nossa recente turnê com Vozes dos Porões foi justamente no fantástico Sarau da APAFunk, na Cinelândia, na frente da ocupação Manoel Congo.

A que você atribui a “profusão inusitada de obras de autores oriundos  das periferias urbanas” que se observa na última década?

Acho que tem vários elementos. Primeiro, a crise social brasileira iniciada no período da “democratização” e aprofundada na década de 1990, que criou um abismo inédito entre as classes sociais, devido às políticas neoliberais, à polarização da riqueza, a “democratização” das drogas e o aumento da violência. Essa crise trouxe, por um lado, uma reação de intolerância por parte das classes privilegiadas e o que alguns pensadores têm chamado de “cultura do extermínio” contra as populações pobres, consideradas “perigosas”. Por outro lado, essa situação resultou numa crise na mediação cultural, até então feita por uma classe média letrada. Esse vácuo na mediação cultural vem sendo retomado, agora, pelos produtores culturais periféricos, não mais com o discurso da negociação conciliadora numa suposta democracia racial, mas, ao contrário, visibilizando e escancarando os conflitos presentes na sociedade brasileira. Nesse contexto, um grande impulso foi o sucesso mercadológico de obras como Cidade de Deus, o filme Carandiru e toda a produção cultural em volta do massacre. Finalmente, o grande impulso foi o surgimento dos saraus literários, que serviram como espaços de conscientização e de formação política e literatura para muitos poetas e escritores.

Você insere essa produção literária nesse movimento cultural e político mais amplo que é o dos saraus literários, que vem se expandindo nas periferias do país desde 2000. Poderia falar um pouco sobre esse movimento?

São espaços, geralmente bares, de encontro entre poetas, escritores, ativistas e amantes da palavra, onde se recita poesia, se discutem temas culturais e políticos, se lançam livros, pela e para a população periférica. Espaços de formação não só poética e literária, mas política, de sujeitos individuais e coletivos. Hoje há uma grande variedade de formas e estilos, uns voltados mais para a poesia, outros para o debate, alguns com um perfil evidentemente periférico e outros com um viés muito mais afrobrasileiro, com a reivindicação da negritude como eixo de luta (a exemplo do Sarau Bem Black na Bahia), e inclusive outros com uma perspectiva mais global, latinoamericana, como o Sarau do Binho. É interessante notar que o fenômeno é muito dinâmico, não só pelo surgimento de cada vez mais saraus, mas do constante questionamento interno sobre o papel formador desses espaços e as ações políticas e sociais para além do sarau em si. Nos saraus da Brasa e do Elo da Corrente, na zona norte de São Paulo, por exemplo, o lançamento de Vozes dos Porões serviu como ponto de partida para debates muito profundos sobre autonomia, formação política, o papel problemático da ação das ONGs e do Estado, etc.

Cada vez essa produção literária tem mais espaço no mercado editorial. Como foi esse processo de incorporação dessa escrita ao mercado? Poderia citar alguns exemplos?

Como eu disse, a obra que abriu essa porta foi Cidade de Deus, seguida pelos números de Literatura Marginal na revista Caros Amigos. Na primeira metade da década de 2000, há uma grande quantidade de livros publicados de forma independente. Simultaneamente, houve a criação de algumas iniciativas editoriais independentes, como Edições Toró, organizada por Allan da Rosa. Mas é a partir de 2003 que autores como Ferréz começam a publicar em editoras de grande porte e a serem traduzidos e publicados em vários países, sem dúvida devido à atenção que essa produção começa a ter na mídia. Duas importantes iniciativas, ambas iniciadas em 2007, são a coleção Literatura Periférica da Global Editora, com oito livros publicados até agora, e a coleção Tramas Urbanas da Aeroplano Editora (da qual Vozes dos Porões faz parte), com curadoria de Heloísa Buarque de Hollanda, com uns 30 livros publicados sobre a produção cultural periférica. Além disso, é importante destacar a notável e crescente presença dos escritores periféricos em feiras de livros, congressos, encontros acadêmicos e outros eventos nacionais e internacionais, dialogando cada vez mais com a produção cultural “canônica”.

Inspirado pela literatura marginal brasileira, você participou de um coletivo editorial no México, onde iniciou a coleção Imarginalia, dedicada a autores oriundos de favelas e periferias urbanas. Quais são as diferenças e semelhanças entre a literatura marginal mexicana e a brasileira?

A literatura que se faz nas periferias e “barrios bravos”, por exemplo, da cidade do México, tem muito a ver com a literatura periférica brasileira: a preocupação com as temáticas da marginalidade, da violência, da pobreza, da desigualdade; o uso de uma linguagem carregada da oralidade das ruas; a preocupação com a memória, com a territorialidade e com as formas de sociabilidade locais; a vinculação com ações políticas e sociais para além da criação literária. Ao mesmo tempo, a literatura periférica no Brasil destaca-se pela vitalidade, pela vinculação muito ativa entre escritores de periferias de todo o país, com a consciência de serem parte de um fenômeno comum, pela participação de autores muito jovens, pelo pertencimento a um movimento cultural mais amplo que inclui muitas outras expressões culturais além da literária, e pela visibilidade do fenômeno tanto na mídia quanto no mercado e até mesmo na academia.

Quals são as relações que você estabelece entre o Exército Zapatista de Liberação Nacional e a literatura periférica?

O EZLN no México é um movimento revolucionário cuja principal arma de luta é a palavra e cuja principal reivindicação é a autonomia. Nos últimos 20 anos, eles têm criado um sistema de governo, justiça, educação, saúde, produção e comércio autônomo, fora da lógica do capital e sem um centavo do governo. Por outro lado, um dos eixos mais interessantes do movimento da literatura periférica são as ações políticas de criação de espaços de autonomia nas periferias. A experiência de luta antissistêmica e de construção de um mundo alternativo pelos zapatistas pode alimentar o próprio debate interno do movimento cultural periférico, no contexto das suas próprias buscas, conquistas e contradições.





Colaboração de Renata Saavedra

18 de setembro de 2013

Literatura dos porões da sociedade marca território

Publicado por Periferia em Movimento em 18/09/201
Foto: Nathália Barbosa
Por Andressa Vilela
Descontraído e informal. Esse foi o clima do evento que aconteceu na tarde de quinta-feira (29), no Centro Cultural São Paulo. Estavam presentes Alejandro Reyes, autor mexicano de “Vozes dos Porões: a literatura periférica/marginal no Brasil”, e Allan da Rosa, que escreveu “Pedagoginga, Autonomia e Mocambagem”. Ambos os títulos foram publicados pela Editora Aeroplano, dentro da Coleção Tramas Urbanas, coordenada pela professora Heloisa Buarque de Hollanda, que mediou a mesa no início do encontro.

Heloisa abriu o debate pontuando que as duas obras são estudos profundos. Sobre Vozes dos Porões, a professora afirma que se trata do livro mais completo sobre literatura marginal, no qual o autor se debruçou sobre toda a história do tema, transmitindo uma identificação profunda para os leitores.

Pedagoginga, por sua vez, questiona o fazer educativo e apresenta uma nova proposta pedagógica, que envolve autonomia dos alunos e compromisso com a cultura afro-brasileira. De acordo com o autor, “é o sonho de alimentar o movimento de educação popular nas periferias de São Paulo”.

Segundo Reyes, o nome de seu livro surgiu a partir de uma experiência que vivenciou no México, onde conheceu o coletivo O Porão dos Esquecidos, que produz uma literatura semelhante à marginal brasileira, ou seja, que não tem grande espaço para divulgação. Juntos, pensaram que a melhor maneira de nomear tal produção seria “literatura dos porões”, dos porões da sociedade.  “É um trocadilho sobre o que acontece no México e o que acontece aqui”, explica o autor.

A seguir, o foco da conversa tornou-se o preconceito linguístico que está enraizado na sociedade brasileira. Conforme os debatedores, a literatura periférica trata de questões extremamente locais, reivindicando, assim, uma linguagem muito específica, que vai de encontro ao que a comunidade acadêmica considera culto e correto. Por isso é urgente que se criem pontes para conectar os dois extremos linguísticos da sociedade: o erudito e o popular.

Para Alejandro, a produção literária marginal surge como uma dessas pontes, que deve quebrar a cegueira e a surdez de instituições conservadoras que ainda resistem em considerar o discurso periférico como válido. Segundo Allan, a produção de algo diferente do que já existe está na necessidade de marcar um território. Entretanto, ele aponta que a padronização também é um risco que a produção da periferia corre, mas que “a quebrada é de um monte de jeito e tem um monte de tema possível”.

Sobre o papel da literatura na sociedade, Reyes acredita que ela tem a capacidade de quebrar conceitos, de ir o mais profundo possível no questionamento da existência humana.  “A literatura tem uma função pedagógica no sentindo de nos fazer enxergar coisas que de outro modo não enxergaríamos”, diz o autor. Ele explica que a literatura periférica não surge com o sentido de apontar respostas, mas sim de fazer o leitor identificar-se com o que lê. Trata-se da “sanha de fazer o leitor aparecer”, que, para Allan, é uma luta diária.

O último tema abordado no encontro foi o perfil da escrita literária dos mexicanos que vivem nos Estados Unidos. Segundo Reyes, a fronteira entre os dois países não existe no imaginário e na realidade humana dos imigrantes e isso é refletido na literatura. “Tem um hibridismo com a linguagem… Já que território tem a ver com a experiência e sensibilidade humana e nada a ver com fronteiras, mesmo que existam fisicamente”, pontua. O outro lado do assunto são os traumas que os imigrantes sofrem ao tentar entrar ilegalmente no país norte americano. Ambos os autores afirmam que conheceram de perto histórias difíceis, que apenas reforçam o apego ao país de origem.

11 de setembro de 2013

Alejandro Reyes no Sarau da Brasa

ALEJANDRO REYES NO SARAU DA BRASA

Salve 

No último dia 24 de agosto recebemos em nosso terreiro, o companheiro Alejandro Reyes, para o lançamento de seu livro “Vozes dos Porões”.

Literatura periférica, estética, linguagem, zapatismo, espaços de autonomia no México, movimentos de arte e espaços de autonomia em São Paulo, foram algumas encruzilhadas que deram movimento aos nossos pensamentos.

Momento de exercício, experimentação e construção de mais um momento de respiro para nossas reflexões coletiva, dentro das periferias de São Paulo.

Agradecemos a Alejandro pela contribuição e a tod@s que deram movimento na roda.











10 de setembro de 2013

Chá de Conversa e Som - Feira de Santana

Mais um “Chá de Conversa e Som” aconteceu no Museu de Arte Contemporânea Raimundo Oliveira (Mac) e, desta vez, em edição especial. A partir das 19h de sexta-feira (6), a discussão girou em torno do tema “Cultura, resistência e movimento autônomos: Literatura Marginal-Periférica-Divergente, Zapatismo e mídia alternativa”. 

Enquanto saboreavam um gostoso chá de frutas com torradas e biscoitos, o bate-papo se deu com o mexicano Alejandro Reyes e foi mediado por Nelson Maca e pelo historiador feirense Bel Pires. Como de costume, o músico e artista-plástico Gabriel Ferreira iniciou e encerrou os trabalhos, e Elsimar Pondé interveio com falas. 

No entanto, Alejandro e Nelson, ambos professores universitários, escritores e ativistas sociais, que residem em Salvador, enfrentaram um engarrafamento de 3h, gerando um grande atraso na programação, o que fez com que algumas pessoas não esperassem e fossem embora antes de sua chegada ao Mac, situado à Rua Geminiano Costa, 255, Centro de em Feira de Santana.

Na ocasião, foi lançado o livro “Vozes dos Porões” de Alejandro Reyes. Confiram mais fotos abaixo.


“Chá de Conversa e Som” especial: “Cultura, resistência e movimento autônomos”

6 de setembro de 2013

Quando certa literatura deixa as margens

Estéticas-das-Perifierias-074
Lançamento dos livros “Vozes dos Porões” e “Pedagoginga” simboliza a concretização, valorização e o aprofundamento de obras conhecidas — ainda — por poucos, fora das periferias

Por Andressa Vilela

Em tarde de quinta-feira (29), no Centro Cultural São Paulo, descontraída e informal, Alejandro Reyes, autor mexicano, lançava sua obra “Vozes dos Porões: a literatura periférica/marginal no Brasil” ao lado de Allan da Rosa, que escreveu “Pedagoginga, Autonomia e Mocambagem”. Ambos os títulos foram publicados pela Editora Aeroplano, dentro da Coleção Tramas Urbanas, coordenada pela professora Heloisa Buarque de Hollanda, que mediou a mesa no início do encontro.

Para ela, ambas “estudos profundos”. Vozes dos Porões, segundo ela, o livro mais completo sobre literatura marginal, no qual o autor se debruçou sobre toda a história do tema, transmitindo uma identificação profunda para os leitores. Pedagoginga, por sua vez, questiona o fazer educativo e apresenta uma nova proposta pedagógica, que envolve autonomia dos alunos e compromisso com a cultura afro-brasileira. De acordo com o autor, “é o sonho de alimentar o movimento de educação popular nas periferias de São Paulo”.

Ainda que original de outro país, Reyes diz ser semelhante o que acontece lá e cá, quanto à literatura marginal. Segundo ele, o nome do livro surgiu por causa de vivência em coletivo chamado “O Porão dos Esquecidos”. Juntos, pensaram que a melhor maneira de nomear tal produção seria “literatura dos porões”, dos porões da sociedade.  “É um trocadilho sobre o que acontece no México e o que acontece aqui”, explica o autor.

As diferenças e semelhanças foram ingredientes para uma rica troca sobre a arte das letras do povo. Primeiro, o assunto foi o preconceito linguístico, enraizado na sociedade brasileira. Conforme os debatedores, a literatura periférica trata de questões extremamente locais, reivindicando, assim, uma linguagem muito específica, que vai de encontro ao que a comunidade acadêmica considera culto e correto. Por isso é urgente que se criem pontes para conectar os dois extremos linguísticos da sociedade: o erudito e o popular.

Para Alejandro, a produção literária marginal surge como uma dessas pontes, que deve quebrar a cegueira e a surdez de instituições conservadoras que ainda resistem em considerar o discurso periférico como válido. Segundo Allan, a produção de algo diferente do que já existe está na necessidade de marcar um território. Entretanto, ele aponta que a padronização também é um risco que a produção da periferia corre, mas que “a quebrada é de um monte de jeito e tem um monte de tema possível”.

Sobre o papel da literatura na sociedade, Reyes acredita que ela tem a capacidade de quebrar conceitos, de ir o mais profundo possível no questionamento da existência humana.  “A literatura tem uma função pedagógica no sentindo de nos fazer enxergar coisas que de outro modo não enxergaríamos”, diz o autor. Ele explica que a literatura periférica não surge com o sentido de apontar respostas, mas sim de fazer o leitor identificar-se com o que lê. Trata-se da “sanha de fazer o leitor aparecer”, que, para Allan, é uma luta diária.

Num caso específico da criação literária de mexicanos que vivem nos Estados Unidos, por exemplo, a fronteira entre os dois países não existe no imaginário e na realidade humana dos imigrantes e isso é refletido na literatura, conta Reyes. “Tem um hibridismo com a linguagem… Já que território tem a ver com a experiência e sensibilidade humana e nada a ver com fronteiras, mesmo que existam fisicamente”, pontua. O outro lado do assunto são os traumas que os imigrantes sofrem ao tentar entrar ilegalmente no país norte americano. Ambos os autores afirmam que conheceram de perto histórias difíceis, que apenas reforçam o apego ao país de origem.
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Para ler a seleção Outras Palavras da Cobertura Colaborativa Estéticas das Periferias, clique aqui
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5 de setembro de 2013

O poeta Binho e o escritor mexicano Alejandro Reyes visitam Ferréz e o Capão Redondo

Em: Blog de Ferréz

Uma surpresa muito boa foi a chegada dos amigos, Binho e Alejandro Reyes e sua família, que vieram visitar esse escritor que voz escreve, e também de quebra conheceram nosso antiquário. Logo depois fomos para uma feijoada do Sr. Ernesto e depois conferir o grafite do Japão, que tinha feito mais um cachorro para marcar a Zona Sul. ganhei o novo livro de Alejandro Vozes dos Porões, um livro impressionante e obrigatório para quem quer entender a literatura no Brasil feita pelos sofredores.



Voltem sempre amigos, a casa é nossa.

2 de setembro de 2013

Sarau Bem Black convida a série de eventos em Salvador, Bahia, com Vozes dos Porões

Escritor mexicano Alejandro Reyes lança
o livro 
Vozes do Porão no Sarau Bem Black
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Evento acontece quarta-feira (04/08) no Sankofa African Bar e terá bate-papo, rodada poética e pocket-show com o rapper brasiliense GOG  

A literatura produzida atualmente nas periferias brasileiras  é o tema do novo livro do  escritor mexicano Alejandro Reyes,  Vozes do Porão: Literatura Periférica/Marginal no Brasil (Editora Aeroplano), que o autor lança no país. Depois de passar pelo Rio Grande do Sul e São Paulo,  Alejandro chega a Salvador esta semana para uma série de atividades realizadas em parceria com o Coletivo Blackitude – Vozes Negras da Bahia.
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O ponto de partida é o Sarau Bem Black desta quarta (04/08), evento já marcante do calendário da cidade, que acontece semanalmente no Sankofa African Bar, no Pelourinho. Apresentado por Nelson Maca, Álvaro Réu e Mil Santos, participação das poetas juvenis Lucinha Black Power e Luiza Gata e discotecagem do DJ Joe – que esta semana toca raps do GOG. O Sarau, que começa às 19h30, conta com bate-papo, que terá as participações especiais do rapper brasiliense GOG e do poeta paulista Berimba de Jesus. No final da noitada poética, GOG fará um pocket-show.

Esta é a segunda vez que o Sarau Bem Black tem o prazer de receber Alejandro  Reyes. Foi no evento que ele lançou, em 2011, seu premiado romance 
A Rainha do Cine Roma (Leya), que fala sobre meninos de rua e cuja história se passa em Salvador, onde ele morou. Da ficção para o ensaio, Alejandro estudou com atenção a agitação literária que sacode as periferias das grandes cidades brasileiras, com foco em São Paulo.
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Com uma obra também voltada para a marginalidade, ele faz uma análise literária e política deste movimento, alimentada pelas experiências do movimento zapatista e de outros movimentos latino-americanos. Fruto de uma tese de doutorado na  Universidade da Califórnia, o trabalho, explica o escritor, tem “ intenção de contribuir para pensarmos juntos — escritores, ativistas, sonhadores das perifas múltiplas do nosso mundo — como construir alternativas neste momento de crise global”..
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Na quinta (05/09), Alejandro se encontra com os estudantes da Universidade Católica, no campus da Lapa (9h) e da UFBA, no Auditório I do PAF 5 (19h);  no dia seguinte, segue para o MAC/Feira de Santana, onde é convidado do evento Chá de Conversa e Som / Cultura , Resistência e Movimentos Autônomos; e no domingo (07/09), encerra sua programação no Museu Street de Salvador – MUSAS, na Gamboa de Baixo. Em todos os encontros, o autor autografa Vozes do Porão e fala da literatura marginal, periférica e divergente e temas relacionados como zapatismo, mídia independente, autonomia artística e política.
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Autor - Alejandro Reyes nasceu na cidade do México, é escritor, jornalista e tradutor. Viveu nos Estados Unidos, na França e nove anos no Brasil, inclusive em Salvador. É mestre em Estudos Latino-Americanos e doutor em Literatura Latino-Americana pela Universidade da Califórnia em Berkeley. É ativista e membro do coletivo de mídia alternativa Rádio Zapatista. É autor de Vidas de RuaContos MexicanosSueños en tránsito: crónicas de migraciónVozes dos porões. Seu romance A Rainha do Cine Roma foi finalista do prêmio Leya (Portugal), menção honrosa no Prêmio SESC (Brasil) e ganhador do Prêmio Lipp 2012 (México/França) pela versão em espanhol. É tradutor do Manual prático do ódio, de Ferréz, entre outros livros, e editor de Metamorfosis, coletânea de escritores de Tepito e outros “bairros bravos” da cidade do México. Atualmente reside em Chiapas, México.
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Lançamentos Vozes do Porão: Literatura Periférica/Marginal no Brasil

Quarta (04/09): Sarau Bem Black - Sankofa African Bar - Pelourinho – 19h30

Bate-papo com Alejandro Reyes (México) e GOG (Brasília) e participação de  Berimba de Jesus (São Paulo). Pocket-show com GOG. Entrada gratuita. 
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Quinta (05/09): UCSal / Lapa – 9h às 12h
Mesa redonda: Literatura e Divergência: Literatura Periférica, Marginal e Divergente
Com: Alejandro Reyes, Nelson Maca, GOG e Berimba de Jesus.
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Quinta (05/09): UFBA / Auditório 1 - PAF VI – 19h
Mesa redonda: Discutindo a divergência na Literatura Brasileira
Com: Nelson Maca, Alejandro Reyes, GOG e Henrique Freitas; organização: Jorge Augusto
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Sexta- (06/09): MAC/Feira de Santana – 19h
Chá de Conversa e Som / Cultura , Resistência e Movimentos Autônomos: Literatura-Marginal-Periférica-Divergente, Zapatismo e Mídia Independente
Bate-papo com Alejandro Reyes; Mediadores: Nelson Maca e Bel Pires
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Domingo (7/09): MUSAS –Museu de Street Salvador/Gamboa de Baixo – Contorno
Hip Hop, Literatura e Autonomia Artística e Política
Com: Alejandro Reyes, Nelson Maca, GOG e Ativistas do Hip Hop-BA .Mediação: Julio Costa